quarta-feira, 6 de junho de 2012

O CONSELHEIRO: LINDA HISTÓRIA



Numa fazenda de café em terras ribeirinhas do Paraíba do Sul, o coronel Antônio Mendes era dono de escravos  de uma próspera fazenda de café,que rendia ao seu proprietário vultosa renda.
Vaidoso, de suíças já esbranquecidas a adornar-lhe a faces isentas de rugas, o que mais almejava na vida, alem de verem frutificarem  s seus cafezais sob o labor dos negros, era receber, das mãos do imperador, uma comenda. Para obtê-la, utilizava as armas da falsidade e da intriga, da calúnia e da lisonja, a insinuar-se nas antecâmaras palacianas, ismiscuindo-se nas intrigas da corte. As artes da intrujice, todavia, nem sempre o abonavam.
certo dia, viu-se impedido de frequentar os saraus, em que se fazia  questão de exibir as prendas de sua sinhazinha, à cata de um bom partido, e os gestos afetados e ridículos de sinhá Hermínia. Talvez por peraltices das sombras, envolveu o coronel em trama inusitada, de que resultou bom proveito em sólida pecúnia e na falência de afortunado c, comerciante, acossado por falsos credores, entre os quais se alinhava ele mesmo, Antônio Mendes.
Mestre em artimanhas, não conseguiu, porém, desenlear-se antes que os outros, mais bem avisados, safassem-se fazendo desabar, em largos costados, toda a prancha de iniquidades praticadas pela associação dos velhacos.
O escândalo cerrou as portas da corte à sua impiedosa e aguda ambição. E de lá para cá, resguardou-se nos limites do feudo e desandou, por crueldade, a lacerar o lombo dos escravos no martírio do tronco, deixando-os à fome e sede, sob o sol causticante.
Os castigos exacerbavam-lhe a vaidade e o orgulho, a ponto que os pobres servos amainassem sua dores entoando cânticos aos seus orixás. Muitos eram abandonados impiedosamente, esvaindo-se em sangue, depois de receber cruéis chibatadas no dorso nu e trêmulo.
Não conseguido receber em vida o título ambicionado, apesar de sua fortuna, um dia , amargurado, entrou em lenta agonia, prenunciando o término de sua jornada terrena.
Veio a noite da morte. Entre estertores e asfixia, desvestia o espírito do corpo carnal, perispírito recamado em tons trevosos, sem tempo hábil para para que o sacerdote, chamado ás pressas, pudesse encomendar sua alma à misericórdia do Senhor.
Assim partiu Antônio Mendes, entre o silêncio da negrada e lágrias e soluço da família, inconformada por não levar o defunto, sobre o peito, a comenda de conselheiro.
Do outro lado da vida, depois de longo tempo de inconsciência, prisioneiro da turba que o arrebatara aos primeiros instantes da desencarnação, Antônio Mendes, em espírito, encontrou, nas esferas inferiores, inúmeros de seus escravos.
Humildes, em grupos aureolados de luz, viram-no  na faina de cultivar, sob chibatas de obsessores, longo e árido trato de terra, já esquecido da comenda que tanto ambicionara e que, agora, diante da liberdade perdida, assemelhava-se a vulgar ornto, sem qualquer valor.

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