sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Verdugo e vítima: Que linda história!!



O rio transbordava.
Aqui e ali na crista espumosa da corrente pesada, boiavam animais mortos ou deslizavam toras e ramarias.
Vazantes em torno davam expansão ao crescente lençol de massa barrenta.
Famílias inteiras abandonavam casebres, sob a chuva, carregando aves espantadiças, quando não estivessem puxando algum cavalo magro.
Quirino, o jovem barqueiro que vinte seis anos de sol havia enrijecido de todo, ruminava pelo sinistro.
Não longe, em casinhola fortificada, vivia Licurgo, conhecido usurário das redondezas.;
Todos o sabiam proprietário de uma pequena fortuna q eu montava guarda, vigilante.
Ninguém, porem, poderia avaliar-lhe a extensão, porque, sozinho, envelhecera e, sozinho atendia às próprias necessidades.
_ O velho- dizia Quirino de si para consigo- será atingido na certa. É a primeira vez que surge uma cheia como esta. Agarrados aos próprios haveres, será levado de roldão... E se as águas devem acabar com tudo, porque não me beneficiar? O homem já passou dos setenta... Morrerá a qualquer hora. Senão for hoje, será amanhã... E o dinheiro guardado? Não poderia servir para mim, que estou moço e com pleno direito ao futuro?...
O aguaceiro caia sempre, na tarde fria.
O rapaz, hesitante, bateu à porta da choupana molhada.
_"Seu" Licurgo! "Seu" Licurgo!...
E, ante o rosto assombrado do velhinho que assomara à janela, informou: 
_ Se o senhor não quer morrer, não demore. Mais um pouco de tempo as águas chegarão... e os vizinhos já se foram...
_ Não, não...- resmungou o proprietário- moro aqui há muitos anos. tenho confiança em Deus e no rio.. Não sairei.
_ venho fazer-lhe um favor...
- Agradeço, mas não sairei.
Tomado de criminosos impulso, o barqueiro empurrou a porta mal fechada e avançou sobre o velho, que procurou em vão reagir.
- Não me mate, assassino!
A voz rouquenha, contudo, silenciou nos dedos robustos do jovem.
Quirino largou para um lado o corpo amolecido, como traste inútil, arrebatou pequeno molhe de chaves do grande cinto e, em seguida varejou todos os escaninhos...
Gavetas abertas mostravam cédulas mofadas, moedas antigas  diamantes, sobretudo diamantes.
Enceguecido de ambição, o moço recolhe quanto acha.
A noite chuvosa descera completa...
Quirino toma os despojos da vítima em um cobertor e, em breves minutos, o cadáver mergulha no rio.
Logo após, volta à casa despovoada, recompõe e ambiente e afasta-se, enfim, carregando a fortuna.
Passado algum tempo, homicida não v~e que uma sombra se lhe esgueira à retaguarda.
É o espírito de Licurgo, que acompanha o tesouro.
Pressionado pelo remorso, o barqueiro abandona a região e instala-se em uma grande cidade, com pequena casa comercial, e casa-se procurando esquecer o próprio arrependimento mas, recebe  velho Licurgo, reencarnado, como seu primeiro filho...
Irmão X- " Luz no Lar".

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