quarta-feira, 24 de março de 2010

Sócrates: O FILÓSOFO PERANTE O TRIBUNAL

Quando se estabeleceu a oligarquia os trinta mandaram chamar-me com mais quatro, na Tolos e nos ordenaram que fôssemos buscar Leão em Salamita, a fim de executá-lo.Semelhantes ordens eram dadas frequentemente por eles eles a muito outros, pois queriam associar a seus crimes o maior número possíve de cidadãos. Em tal circunstancia, porém,manifestei, não por palavras, mas por atos, que a morte, _ desculpai-me diz^-lo sem rebouços_, me preocupo tanto como nada: mas quero cometer nenhum ato in justo ou ímpio, e que disto me preocupo acima de tudo. Destarte, por forte que fôsses, aquele poder não conseguiu me extinguir pelo temorum ato injusto. Quando saímos da Tolos meus quatro companheiros se dirigiram para salamitae de lá trouxeram a Leão; mas eu voltei para casa. E muito provavelmente teria pago com isto a vida, se o governo dos Trinta não tivesse sido deposto dentro m puco. estes fatos vos serão atestado por numerosos testemunhos.
Se não me in digno de ser condenado por vós, Atenienses, é por diversas razões, especialmente por não ter sido apanhado de surprêsa. Admira-me mais a proporção em que se repartiram os votos. De fato nunca penseique apenas uma maioria tão fracase pronunciasse contra mim: cria que seria muito mais forte. Pois se não me engano,, teria bastado um deslocamento de trinta votos para que fôsse despronunciado. Concluí daí que, no que dependia de Meletos, teria sido absolvido; mais ainda, ninguém pode duvidar que, se Anytos e Lycon não tivessem vindo aqui me acusar, ele teria sido condenado a uma multa de mil dragmas por não haver recolhido um quinto dos votos.
Agora, propõe que me condenem à morte. Seja. Por minha vez Atenienses, que devo propor? Evidentemente o que mereço. O que, então? Que tratamento, que multa mereço por ter crido que devia renunciar a uma vida tranquila, negligenciar oq ue a maioria dos homens preza, fortuna,interesses privados, comando militares, êxito de tribuna, magistratura, coalizões e partidos políticos? Por ter me convencido de que meus escrúpulos ter-me-ia perdido se tivesse tomado êsse caminho?Por não ter querido me enganjar no que teria acarretado nenhum proveito nem a vós nem a mim? Por não ter preferido prestar a cada um de vós, em particular, o que declaro ser o maior dos favores, tentando persuadir que se ocupem menos com o que lhe pertence do que com sua própria pessoa, a fim de se tornar tão excelente e razoável quanto possível, que sonhe menos com as coisas da cidade que com a própria cidade, em resumo, que aplique a tudo êsses pricípios? Que mereci, pergunto, por me haver conduzido assim? Um bom tratamento Atenienses, ser quisermos ser justos; e, sem dúvida, um bom tratamento que meme seja apropriado. Mas que poderá calhar a um benfeitor pobre, que necessita de lazer para os exortar? Nada convém mais a tal homem, Atenienses que ser alimentado no pritanêu. Sim, isto lhe assentaria muito melhor do que àquele entre vós que foi vencedor na Olimpia com um cavalo de corrida, com uma parelha atrelada a um carro ou a uma quadriga. tal vencedor lhes proporciona apen as a satisfação de aparência; eu, porém, vos dou uma que é real. Além disto ele não tem necessidade que o alimentem; mas eu tenho. portanto, se quiserdes me tratar com justiça e conforme meu merecimento, o que vos proponho é o seguinte: alimentar-me no pritanêu.
( estraído do livro " Sócrates e a consciência do homem- Micheline Sauvage- Ed. Agir, 1959)




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